29/04/2009

O Som da Lira


Naquela noite gelada
Plena de côr e de luz,
Na solidão vastíssima
Dum palco fulgurante
O espectáculo era senhor
E o som da lira ecoava,
Como um vulcão estonteante
Por mar e terra transbordava
Espalhando-se por toda a lava
Extinguindo-se na loucura,
Debelava corpo e espírito,
Aspirava a linguagem da procura
Irrompia rios e mar e céu
Galopava numa fúria incessante
Atravessava portas, salas e janelas,
Afogueada e escondida sob um véu,
Desvendava o mistério da verdade.
Face pálida mergulhava em sensação
Descobria um olhar cristalizado
Na pureza do pensamento estilizado.
Trancava a minha imensa solidão
Envolvia-me em inesgotável ternura
Protegia-me duma densa nostalgia
Arrancava-me a uma profunda amargura,
Que se perdia numa risada infantil
Pela beira duma madrugada febril.

Não sei se dormia ou sonhava
Numa dimensão infinita
O som da lira ecoava…

06.02.87

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