As luzes da Ribalta
acendem-se na meia noite escura
iluminando a face oculta do dia
espalhando fogueiras de alegria
anunciando vestes de cortesia
acordem-se os actores!
a festa vai começar
levantem-se os espectadores
a noite já vai reinar
colocar vestes de
majestosa, triunfante e vadia
vai desenhando um perfil
elegante
caminha majestosa e sozinha
subindo no mais alto do pilar
atravessa a plateia a declamar
de côr e luz a rebentar
num fogo cruzado deslumbrante
e a lua cheia a chamar
estrelas em sintonia
brilhando na terra e no céu
numa enorme euforia
levantam a ponta do véu
numa mágica folia
estende-se a capa do tempo
com fumo e perfume a pairar
corpos nus a transpirar
risos com lágrimas e rubor
horas de grande clamor
e por fim
no meio de tanto motim
é a madrugada a chegar
e a festa vai acabar
a noite cansada vai alta
apagam-se as luzes da ribalta.
Limite
quando os meus olhos encontraram os teus
e o meu pensamento percorreu o teu
não
sei...
talvez não fosse...
mas eu queria... e
inventei horas que compartilhei contigo
interrompi instantes que vivia
saindo da confusão constante
para cair pesadamente, no abandono,
da estranha e mórbida apatia
como se fora mesmo o sono...
a luta do inconsciente
a razão adormecida
na outra face da vida
jogando fora o presente
brincando
entre ti e mim
numa distância ilimitada
nesse espaço gigante
onde continuava a vida
onde existia gente
caminhando ininterruptamente,
quebrando, bruscamente,
o meu longínquo e breve “presente”
que partiu
no instante em que surgiu.
Renovação
Nunca
te vi...
Sei
lá quem és(?)
Achei-te,
casualmente, num Quadro da Vida
Como quem acha “coisa” jamais
conseguida
Assim como “matéria” que se agarra e se
não tem
que tanto, tanto se quer e nunca a nós
vem.
Achei-te,
num belo Quadro,
Numa encantadora parcela da Vida
Com luzes fulminando nossas mentes,
Pesadas, obstruídas de desejos ardentes
E
milhões de estrelas a cintilar
Respirando-se a essência da brisa do
mar
E
o meu desejo distante e mórbido
Que, achando-se em fogo,
Nas
águas frias ficou a nadar...
Nele encontrei as forças vivas da
natureza
E a intensa renovação do meu “ego”
adormecido,
Embalado na superfície das águas
turbulentas
E a minha alma divagando ao sabor da
água morna,
Na
noite calma, de silêncio e de sorna,
Em que a gente, a ver o mar se queda,
cismando,
Nas coisas que a vida nos traz e torna
a levar,
Sem força para continuar caminhando
E
no desejo de aí para sempre ficar
À procura, na confusão do elevado
pensamento humano,
Daquela ternura imprescindivelmente
necessária
Que
nunca pára no meio mundano
E
quando pára, é somente temporária.
Senti
colado ao meu, o teu corpo, a transpirar
E vi os teus olhos verdes, côr do mar,
querendo falar
E as tuas mãos, ao de leve, penetrando
Na
breve eternidade da palavra “amar”
Que agarra a gente com força
Atirando-nos para o precipício da
“evasão”
E nos liberta da sufocante solidão.
Porque,
se o mundo é a força brutal
Onde nunca nos encontramos a par da
razão,
Tu,
fazendo parte dele,
És,
para mim, sinónimo de “Renovação”.
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