29/04/2009

Naquele lugar


Ali, por trás dos montes
dos vales, das colinas verdejantes
das vagas ondulantes
das cores lentas do sol posto
do arvoredo, das cascatas, das mil fontes
saiem quantos contos
quanta magia
quantos sonhos
que um dia
até já foram importantes.

Ali, naquele lugar distante
tão fora do poder da visão humana
nasce, ainda assim e, muito embora,
a cada instante,
a cada passo,
a cada hora,
uma certa voz presa, indistinta,
vem dalí, daquele lugar
tão longe que não sei onde fica,
tão perto que tantas vezes me assusta

Vislumbro um mar, ora tranquilo
ora em sulcos agitados
de sussurros delirantes
ora tão fortes, ora apagados
filhos do tempo,
dos momentos agonizantes.

E cobrem um rosto de mágoa e de saudade
e ferem o coração, que bate forte, com fervor
e umas mãos que tanto tremem, sem calor.
Ali, quando penso que não sei nada

já sei tudo

é o vazio

o silêncio o sangue frio

só os plátanos se abanam, se refrescam
por entre toda e tanta solidão
sem rumo, sem direcção,
e embalam seus etéreos ramos ao luar
sem qualquer pressa,
com tanto vagar

ali, naquele lugar.

14.09.94

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