29/04/2009

As eternas areias do deserto

Finas, lívidas, amontoadas
de cores nuas, claras, desmaiadas,
nelas se movem sombras atordoadas
numa balada de silêncio insondável
onde se cruzam no rasto dos caminhos
o passado, o presente, o futuro,
embrenhadas no rolar da fúria das tempestades
pelo portentoso rodopiar dos ventos
soprando com quanta força pode a natureza
correndo um desafio tortuoso
desmembrando sonhos numa tola e vã certeza
e o céu não chora
não chora nunca...
um rosto pálido, transfigurado
espírito débil, enfraquecido
envolto em cega luz, jaz, perdido
onde vibram miragens loucas
que turvam a fonte da fantasia
transpirando tudo o que é poeira
sempre sob o sol do meio-dia,
e resistem ao tempo
aos ventos flutuantes
às correntes variantes
que avançam sem parar
sem poderem descansar
carregando o peso de toda a sua eternidade
e o céu, por mais que morra de vontade
não chora
não chora nunca...
mas são belas
belas e eternas
as eternas areias do deserto.

Maio/94

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