30/04/2009

(Ligação ao Divino)


Eu não estou só.
Só, eu não existo.
Faço parte do todo, por isso nunca estou só.
Eu não posso ter medo de estar só. Eu não posso ter medo da solidão.
A consciência da solidão é fruto da imaginação fora de contexto. Todavia, o confronto com a solidão é inevitável, nem que seja para o reconhecimento dos seus parâmetros de relatividade.
A existência é infinita, estendendo-se pela eternidade. Jamais se extingue. Portanto, jamais alguém está só.

E quando tudo acabar,

sob pretexto de um sentimento e nunca de um facto, tenho-me a mim. Não posso esquecer que sou parte integrante de um todo. Nada é singular, único, exclusivo. Seria a negação da existência. Existe o que existe. Existe tudo e eu uma parte de tudo. Existo na eternidade com a mesma potencialidade que qualquer outro ser.

E quando tudo acabar,
ainda que só como produto duma mera fantasia, há sempre, se não há, houve e isso já basta para dar autenticidade à tese da negação da solidão, um pai, um filho, um irmão, um afilhado, um sogro, avós, bisavós… que podem até não estar visíveis, mas coexistem, sendo parte da eternidade, com a mesma afirmação que eu. É impossível negar, por mais que eu queira. Negar é destruir a existência do eu, a qual é indestrutível. Portanto, eu existo, como todos os que existem antes e depois de mim. E a cadeia da existência não finda nunca. Existe sempre, algures no meu caminho, por mais distante que pareça, um mestre, um amigo, um companheiro, um vizinho, um discípulo, um livro, uma árvore, uma flor, uma música, uma lua, um sol, um pássaro… que eu não posso ignorar, porque precisa da minha existência tanto quanto eu da dele. Eu existo e não estou só.


E quando tudo acabar
e eu ainda me sentir só e não conseguir estar do lado do sol, da música, do pássaro… então eu tenho-te a Ti no meu pensamento e no meu coração, mesmo sem saber quem és, donde vens, para onde vais… paisagem, desenho, sonho, sorriso, amor, lágrima, vento, aroma, fantasia… como a luz das estrelas, sei que existes e eu nunca estou só.


Junho/2005

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