Era uma vez...
O Sonhador
O Sonhador sonhava
sonhava acordado, sonhava dormindo,
ele sempre sonhava
e o seu pensamento
fluía, fluía
como as águas mansas do rio
corria, corria
sem nunca perder o fio
à teia que ele próprio tecia,
e assim o seu sonho seguia.
Aparentemente, ninguém o via
mas ele e ele só, bem o sabia,
como era bom poder sonhar...
“sonhar” - dizia -
é por aí divagar,
deixar a vida acontecer,
perder-se na essência do próprio ser,
na brancura das nuvens penetrar
caminhar sobre o verde sem pisar,
sentir o vento a fugir
olhar o sol a sorrir
e a borboleta dourada
esvoaçando atordoada...
era tão linda e delicada
tão fugidia e alvoraçada!
e os olhos das crianças louras
onde está escrito o amor...
e os olhos das crianças negras
onde se esconde uma dor!
e o sonhador não entendia
esse seu sonho realidade
um pesadelo - “ansiedade”
mas o sonhador sabia
que o mundo sempre a girar
num dia tudo mudava
e nesse dia
com o relógio do tempo a tocar
era chegado o momento de acordar.
1.10.94
***
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