Nada de novo…
A vista que se perde
no
horizonte
Os
barcos que se passeiam
no
rio
Os
homens que trabalham
As
crianças que brincam…
Nada de novo
Para
a minha alma sedenta
Nada de novo
Para
o meu espírito esfomeado,
Para
o meu espírito
Que deseja
A
doçura dos lírios campestres
O
cheiro suave da maresia
A força das ondas contra as
rochas,
O tempo agreste
e com
ele
A minha alma revolta.
E
é nesta eterna solidão
Que
só a natureza recebe
Que me fico
E então,
O pensamento pára
E
o meu corpo se queda.
Fico, pensamento parado,
Olhando o nada que
enche o mundo.
É
o mesmo nada que enche a minha alma
Que me frusta o pensamento
Que corrompe a minha vida
E me torna Dragão
Das coisas que vêm e
não vão.
Out.1969
Pôr do Sol
A vida
é como a água estagnada
na
lagoa adormecida.
Acorda pela madrugada
vive sem chegar a sair
e na hora da partida
regressa aos escombros da sua origem
no
seio da floresta entristecida.
Caiem as folhas das árvores
É
o Nascer, Viver e Morrer.
O
Dia, a Tarde, o Anoitecer.
Coisas que existem
sem chegar a ser,
e
sempre por acontecer.
E
os meus olhos por abrir
e
a minha vida por redescobrir.
Perco-me no tempo e no espaço.
Viajo
ao sabor do vento.
E
o meu caminho nunca sei qual é
E
da minha vida nunca sei que faço.
E neste vai-vem de esvaimento
Nesta luta de endurecimento
Nesta onda de retraimento
Há
um clarão que enche a minha vida
Um sol dourado que não declina nunca
Um rosto incolor na lagoa reflectido.
Pasmo
de ilusão inadvertida
Espuma
branca na areia derretida.
Vejo,
sinto e não apalpo.
Foge-me
por entre os dedos.
Fala-me
dos meus segredos
Desta
dor que anda perdida
Desta
saudade não sei de quê.
Na hora em que o sol declina
Lentamente
esgotando o seu calor
Pouco a pouco perdendo o seu fulgor
A
lagoa é um espelho de esplendor.
Nele
me olho mas não me vejo.
Louca e diabólica miragem
Fico
presa nessa paragem.
É sempre dura a partida!
Declina
o sol na paisagem
Declina
o sol na minha vida.
Set.1982
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