28/04/2009

                


                  

 Nada de novo…

 

 

A vista que se perde

                                        no horizonte

 

Os barcos que se passeiam

                                                    no rio

Os homens que trabalham

As crianças que brincam…

 

                 Nada de novo

Para a minha alma sedenta

 

                 Nada de novo

Para o meu espírito esfomeado,

Para o meu espírito

         Que deseja

A doçura dos lírios campestres

O cheiro suave da maresia

              A força das ondas contra as rochas,

              O tempo agreste

                                        e com ele

              A minha alma revolta.

 

E é nesta eterna solidão

Que só a natureza recebe

         Que me fico

                            E então,

              O pensamento pára

E o meu corpo se queda.

              Fico, pensamento parado,

                            Olhando o nada que enche o mundo.

 

É o mesmo nada que enche a minha alma

              Que me frusta o pensamento

                 Que corrompe a minha vida

                            E me torna Dragão

                            Das coisas que vêm e não vão.

 

Out.1969      





 

                Pôr do Sol

 

 

A vida

é como a água estagnada

              na lagoa adormecida.

 

Acorda pela madrugada

vive sem chegar a sair

e na hora da partida

regressa aos escombros da sua origem

              no seio da floresta entristecida.

 

Caiem as folhas das árvores

  É o Nascer, Viver e Morrer.

O Dia, a Tarde, o Anoitecer.

Coisas que existem

 sem chegar a ser,

e sempre por acontecer.

E os meus olhos por abrir

              e a minha vida por redescobrir.

 

Perco-me no tempo e no espaço.

Viajo ao sabor do vento.

E o meu caminho nunca sei qual é

E da minha vida nunca sei que faço.

 

E neste vai-vem de esvaimento

Nesta luta de endurecimento

Nesta onda de retraimento

  Há um clarão que enche a minha vida

Um sol dourado que não declina nunca

Um rosto incolor na lagoa reflectido.

 

Pasmo de ilusão inadvertida

Espuma branca na areia derretida.

Vejo, sinto e não apalpo.

  Foge-me por entre os dedos.

  Fala-me dos meus segredos

  Desta dor que anda perdida

              Desta saudade não sei de quê.

 

Na hora em que o sol declina

Lentamente esgotando o seu calor

Pouco a pouco perdendo o seu fulgor

  A lagoa é um espelho de esplendor.

  Nele me olho mas não me vejo.

 

Louca e diabólica miragem

              Fico presa nessa paragem.

É sempre dura a partida!

 

  Declina o sol na paisagem

              Declina o sol na minha vida.             



 Set.1982




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