29/04/2009

A voz da natureza abafa desesperadamente
o som irritante da cidade em cólera
como se ela fosse a selva
onde os animais, de cérebro frio,
se debatem numa luta a corpo quente
num espectáculo apavorante,
irresistível e apaixonante
o do prazer soberbo de gritar
essa fúria louca e desenfreada
a caminho da grande escalada
onde corpo e espírito participam de igual
numa luta fria, franca e leal.

Como é bela a panorâmica da Revolução!
A História de uma nova geração
despontando no cenário natural
da selva aberta ao conteúdo Humano...

Que febre louca me faz correr,
Que caminhos estranhos me sinto percorrer...

Quanto tempo, nem me lembro, estive ausente?!
Quantas horas o pasmo me absorveu

Quanto tempo tentei ao desbarato
devorar
Esse apetite que me confunde estranhamente
tocar
Teu corpo como se fosse o meu
Tua vida como se fosse a minha...

É como se tudo fosse “real”
E o prazer de viver nunca acabasse,
É como se “nada” pudesse ser possível
Ultrapassando os limites do “possível”

É como se a verdade e a “verdade” coexistissem
...e o Princípio e o Fim se confundissem.

06.02.76

***


Renascer


Um dia que passou
um riacho na rocha rebentou
um beijo suave na minha alma assentou
e o amor mais forte ainda brotou
em verdadeira e autêntica torrente
límpida, fresca, transparente,
que o sol em fogo tornou cada vez mais quente.
Brotou em cheio, livre, amena, feliz,
correu vertiginosa, apressada, campos fora,
desobstruindo minha visão, minha mente, minha alma
varrendo meu espírito, limpando meu corpo.
Nele, à transparência me vi,
achando-me em grande calma.
Suguei-o de viva ansiedade,
procurei clareza, suavidade,
desejei-lhe amor, compreensão,
arranquei-lhe a fera imagem da frustração,
atravessei-me em seu doce e leve caminhar,
meu corpo nu, entreguei-lho a cuidar.

Por ele passou, com ele brincou,
saltou, riu e chorou
e falou

baixo, baixinho, em surdina
e fui feliz numa brincadeira ladina,
num momento eterno
e passou longe de mim o Inverno,
triste, melancólico e sombrio.
O dia amanheceu
e a lua se escondeu
e foi então sempre dia,
madrugada morna,
tarde em sorna,
noite de luar,
permanente alvorecer,
um eterno renascer.

1973

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