A música passeava despercebida.
Ouviam-se as notas, uma aqui, outra ali,
como a chuva que caía
aos olhos de quem a via
gota aqui, gota ali…
gente que subia e descia
que tudo escutava mas nada ouvia,
nos mosaicos frios, de cores neutras,
cortando o silêncio ao som da vida.
Porque não sou igual aos outros (?)
nem sequer igual a mim mesma,
nunca sei quem sou,
nem na hora da chegada, nem na hora da partida.
Conformista por eleição,
traiçoeira por convicção,
sou sempre o nada à hora certa,
sobretudo quando a tristeza aperta.
Sonho que sou quem não sou.
Tenho o abismo sempre à espreita
e ao lado a solidão.
Onde estão os que não estão?
E sempre esta vontade de chorar
por mágoas que não sei curar.
Olho os outros, estão sempre a rir,
tenho vergonha até de existir,
sempre à espera do que hei-de ser,
de um diferente amanhecer,
transcendente
intransigente
quando é tudo tão vulgar, tudo tão normal,
apenas eu, a tudo desigual.
Ago/99
***
Uma estrela caiu
Olhei-a
Ela sorriu
e
roupas leves, transparentes, despiu
Eu corri
ela correu
a
distância que o tempo não venceu
Eu brinquei
ela brincou
fantasias
que nunca dispensou
E cansada se sentou
me pedindo que dançasse
e meus desejos lhe segredasse,
ela os faria brilhar
antes do meu despertar
E ao som da brisa a passar
do vento ao longe a cantar
nas águas quentes do mar,
envolvida na luz do luar,
pelo tempo dentro eu entrei
procurando
e nunca mais eu parei
sonhando
dançando
sonhando
Abril/2002
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