30/04/2009

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A música passeava despercebida.
Ouviam-se as notas, uma aqui, outra ali,
como a chuva que caía
aos olhos de quem a via
gota aqui, gota ali…
gente que subia e descia
que tudo escutava mas nada ouvia,
nos mosaicos frios, de cores neutras,
cortando o silêncio ao som da vida.
Porque não sou igual aos outros (?)
nem sequer igual a mim mesma,
nunca sei quem sou,
nem na hora da chegada, nem na hora da partida.
Conformista por eleição,
traiçoeira por convicção,
sou sempre o nada à hora certa,
sobretudo quando a tristeza aperta.
Sonho que sou quem não sou.
Tenho o abismo sempre à espreita
e ao lado a solidão.
Onde estão os que não estão?
E sempre esta vontade de chorar
por mágoas que não sei curar.
Olho os outros, estão sempre a rir,
tenho vergonha até de existir,
sempre à espera do que hei-de ser,
de um diferente amanhecer,
transcendente
intransigente
quando é tudo tão vulgar, tudo tão normal,
apenas eu, a tudo desigual.

Ago/99





***


Uma estrela caiu 
Olhei-a 
Ela sorriu 
  e roupas leves, transparentes, despiu 

Eu corri 
ela correu 
  a distância que o tempo não venceu 

Eu brinquei 
ela brincou 
  fantasias que nunca dispensou 

E cansada se sentou 
me pedindo que dançasse 
e meus desejos lhe segredasse, 
ela os faria brilhar 
antes do meu despertar 

E ao som da brisa a passar 
do vento ao longe a cantar 
nas águas quentes do mar, 
envolvida na luz do luar, 
pelo tempo dentro eu entrei 
  procurando 
e nunca mais eu parei 
  sonhando 
  dançando
  sonhando 


Abril/2002

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